segunda-feira, 15 de junho de 2009

Respostas sobre o Irã que você sempre quis saber mas nunca teve vontade de perguntar
Arquivado em: Brasil, Cidadania, Cinema, Cultura, Debates, Internacional, Oriente Médio, Política — Fefê Alves @ 15:03 Tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,
E o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad desistiu de vir ao Brasil. Estaria ele muito envolvido com as eleições presidenciais que ocorrerão em junho. Com o adiamento, Venezuela e Bolívia também terão de esperar para uma próxima oportunidade. A mídia brasileira, no entanto, preferiu cobrir mais as manifestações contra a visita do chefe de Estado iraniano, ocorridas no domingo (03). Grupos de apoio a Israel e aos direitos humanos se uniram para afirmar que Ahmadinejad é persona non grata. Jornais e televisões alardearam o constrangimento e certamente influenciaram a comissão iraniana a mudar de idéia e poupar-se desse desgaste.
Pois bem, mais curioso foi procurar artigos a respeito da vinda cancelada e do Irã. Hoje o portal G1 lançou na capa uma matéria com enviado especial para a Jordânia (poxa, jornal brasileiro com enviado internacional?! Coisa rara! Mas não nos iludamos, tem caroço no angú). País, que segundo a CIA e o governo americano, seria exemplo para a toda a região do Oriente Médio. Bom, pelo que conheço de história recente, a Jordânia não é exatamente um país de vontade própria. E isso fica ainda mais claro quando se lê boas referências vindas da CIA. (Sic) Mas isto é pano para uma manga futura. Pois antes preciso revisitar alguns clássicos. Além do mais, o momento é muitíssimo propício para falar do Irã.
Falemos, então!
Nesse mar digital acabei encontrando dois artigos que me gritaram por atenção!Primeiro, o
artigo de Alberto Dines. Apesar de ser o âncora do Observatório da Imprensa e possuir uma carreira jornalística bastante interessante, Dines jogou tudo isso às favas e chamando Ahmadinejad de “tiranete”, ironizou a vinda do presidente. Valorizou ainda uma recente morte, na verdade, uma punição capital de uma moça, artista plástica, executada com apenas 21 anos. Escarneceu (e com razão) da mídia brasileira pouco ou nada cobrir sobre o mundo e também relembrou o atentado na Argentina em 1994, creditado pelo governo local ao Irã.
Ok, daremos a César o que é dele: Ahmadinejad foi eleito pelo povo, assim como Bush (tiranete como?! ). Os EUA possuem pena de morte e nem por isso vemos em nossos jornais, ou em jornais de outros países, os nomes dos condenados. O que dirá, extensas matérias com suas vidas contadas, tal como foi sugerido que se fizesse. E por fim: concordo plenamente com o vácuo jornalístico que existe em nossa cobertura internacional e lastimo o atentado na Argentina e igualmente rogo por justiça.
Mas nem só de pêsames foram feitas as emoções ao procurar mais opiniões sobre a vinda ou não vinda de Ahmadinejad. O segundo artigo é de Idelber Avelar e encontra-se tanto no site da Carta Maior quanto no blog “O biscoito fino e a massa”. Nele, o autor desconstrói mitos muito apreciados por nossa inconsequente mídia, a contar:
- “Varrer Israel do mapa”:Apesar de jornais embrulharem peixe e se comprazerem com o “dito”, é preciso esclarecer que isso nunca foi dito pelo presidente iraniano. Avelar aponta as manipulações ocorridas nas traduções do persa para o inglês feitas pelo New York Times e amplarmente difundidas. Inclusive relembra que o Irã não tem um histórico de invasão ou agressão a países, ao contrário de Israel, diga-se.
- Irã e Israel?E para ilustrar mais um pouco, cito o Neturei Karta, organização de judeus ortodoxos que lutam contra o anti-semitismo (o ódio aos judeus) e contra o sionismo (criação do Estado de Israel nos moldes atuais). A própria Neturei afirma que o Estado de Israel como existe não é desejo de todo o povo judeu e deve portanto ser desvinculado do judaísmo. É sim, um Estado que se usa do povo judeu para criar guerras e destruição e favorecer os interesses estadunidenses. E isso nem sou eu quem diz, não, pode ser lido nos textos da entidade e no próprio site. Aliás, deixo ainda um link para um vídeo em que Ahmadinejad recebe líderes judeus.


- Irã-Iraque:Vi recentemente “Persépolis”, uma autobiografia em animação da iraniana Marjane Satrapi. No filme a história de vida da autora se dá em meio acontecimentos históricos como a queda do Xá e a Revolução Iraniana. Inclusive, há referências a guerra Irã-Iraque. Já Avelar relembra que a CIA e Donald Rumsfeld apoiaram Saddam Hussein durante a invasão do Irã. Obviamente, em momento oportuno Saddam deixou de ser aliado e passou a ser inimigo número 1 da América, como todos sabemos.- Irã e a abertura do regimeSe embasando em Robert Fisk, mais precisamente na bíblia “A conquista do Oriente Médio”, o autor do artigo, relembra o governo de Mohamed Mossadeq de 1954, quando a Frente Nacional nacionalizou a indústria do petróleo. Porém, a CIA e sua incólume perspicácia, rapidamente antecipou um golpe de estado e deu a vez ao absolutismo do Xá. E com o Xá, um pacote de torturas, assassinatos e esmagamento da oposição. (Ouso dizer que é a parte mais notável de “Persépolis”).- Irã e EUA?Pois é, para quem não sabe ou nem se lembra, entre 1998 e 2002, gestão do presidente Mohammed Khatami, o Irã assinalou várias vezes desejar aproximar-se do Ocidente e dos EUA. No entanto, o interesse foi rechaçado pelos EUA, sob a alegação de não ser o moderado Khatami, o comandante-em-chefe das Forças Armadas. Traduzindo em miúdos, presidentizinho do Irã não significa nada. Irônico é saber que Ahmadinejad também não é o comandante-em-chefe das Forças Armadas, mas é demonizado como se estivesse a ponto de apertar o botão de explosão do mundo.- República Morumbi-LeblonPara terminar, e devo lembrar que isso é só um aperitivo, um convite singelo para a leitura da íntegra do artigo de Avelar, falemos da República Morumbi-Leblon. Ela que em manifestações pró-Israel e pró-direitos humanos, apareceu nas televisões, portais da internet e jornais, clamando por humanidade e pintando Ahmadinejad e o Irã como demônios. Ora, é intrigante perceber que não se ouviu nenhum protesto dela quando o presidente que invadiu o Afeganistão e o Iraque e que emprega sanções que dizimam pessoas em todo o mundo foi recebido pelo Itamaraty. Bush, Guantánamo e mesmo Tony Blair passaram batido por ela. Israel e os ataques a Gaza também. Que direitos humanos são esses que privilegiam uns e esquecem de outros?Assim como Avelar também faço coro aos que lutam por direitos humanos, contra as proibições sofridas pelas mulheres iranianas e as perseguições aos homossexuais impostas pelos países islâmicos. Mas repito o brado não só contra o Irã, que é a modinha e o bode expiatório da vez, mas contra qualquer país. Ahmadinejad mantém um discurso fundamentalista, mas também prega contra o massacre e a política obscura de Israel e dos EUA, e isso não pode ser anulado. E isso é importante, fundamental, que todos saibam.

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